O cotidiano da sala de aula sob o formato do Hipertexto
"A interação das palavras constrói redes de significação
transitórias na mente de um ouvinte."
Esse texto visa explicitar a similaridade do trabalho realizado na sala de aula ao formato utilizado pelos usuários da INTERNET. Sendo que hoje a base do trabalho realizado na sala de aula é a confecção de um mural que busca ressaltar a importância e facilidade proporcionados pela aprendizagem e uso conscientes da leitura e da escrita.
A turma que está passando por este processo é uma turma de primeiro ano do primeiro ciclo da Escola Municipal Professor Marcos Waldemar de Freitas Reis situada no Bairro Itaipu, Niterói/RJ.
A turma hoje está passando pela confecção de um mural e juntamente com este trabalho venho fazendo a leitura do livro Tecnologias da Inteligência de Pierre Lévy. Esse trabalho favorece a busca no discurso, na letra, na sílaba, na palavra sempre constituindo um texto sob o formato do Hipertexto atuando na ZDP e favorecendo assim outras construções.
Levando-se em consideração o texto em questão, reforçado pela montagem gradativa do mural e a leitura concomitante deste livro, emergem do cotidiano da sala de aula "n" questões que novamente confirmam Pierre Lévy quando diz que "apenas os nós selecionados pelo contexto serão ativados com força o bastante para emergir em nossa consciência". Para exemplificar vou contar a história da aluna X com limitações motoras em seus membros inferiores e dificuldade de relacionamento com o grupo.
Durante uma atividade de escrita por extenso de alguns números a aluna surpreendeu usando estratégias Metalingüísticas de Pensamento seguindo sem preocupação ou medos caminhos por ela mesmo escolhidos e anteriormente indicados em várias situações de sala de aula, demonstrando assim entrosamento com os movimentos de conteúdo e formato hipertextual das aulas. Logo, o cultivo de uma relação cotidiana e reflexiva minuto a minutomostra e demonstra a importância de de uma relação dialética paraoc crescimento integral dos indivíduos envolvidos.
Para perceber e proceder buscando informações desse nível , facilitando o processo avaliado, logo o caminho percorrido, é necessário que o indivíduo no caso o professor, que coordena esses movimentos, dispa-se do poder que coordenou sua visa , que aprendeu na escola, que presenciou enquanto cidadão costurando os movimentos sociais históricos de formação das cidades e sociedades. É preciso conscientizar-se que esse poder precisa "ser o efeito de conjunto de suas posições estratégicas" (Foucalt-Vigiar e Punir). Visto que essa relação "é o conjunto de relação de forças que passa tanto pelas forças dominadas quanto pelas dominantes.(Deleuze-Foucalt).
O processo utilizado por "n", pessoal, intransferível mas possível de análise, identificação e transformação, mostra a grande rede acionada por ela para encontrar na listagem a palavra desejada.
Passos seguidos pela aluna :
Observação.
Indagação.
-Onde está escrito sete ?
Observação da professora:
-Na lista procura !
A face da aluna apresenta traços de inquietação e busca.
-Começa com S e termina com E ?
-Sim !
Nova busca no mural:
É S – E – T - E ?
A professora novamente responde:
Sim!
Intrigada com tantos conhecimentos até então não apresentados em nenhuma outra atividade em sala de aula perguntei :
Você já conhece todas as letras do alfabeto ?
-Não. Só algumas.
Durante esse momento é possível encontrar todos os 6 princípios abstratos do Hipertexto.
1 - Princípio da metamorfose - constante construção e negação.
2 – Princípio da heterogeneidade - nós e conexões heterogêneas.
3 - Princípio da multiplicidade e de encaixe das escalas - qualquer nó ou conexão pode revelar-se como composto por uma rede.
4 – Princípio da exterioridade – depende de um exterior indeterminado.
5 – Princípio da topologia – a rede é o espaço . Seja ele percorrido, percorrendo ou a percorrer.
6 - Princípio da mobilidade dos centros – variação do foco de atenção
Em suma e usando um termo de PL toda aula traz em si o poder de um "texto caleidoscópio" formando uma imagem diferente dependendo de quem olha e das experiências que trazem consigo.
Essa estrutura de hipertexto é a mesma estrutura apresentada pela estrutura do computador e foi exatamente a partir da estrutura de apresentação do conhecimento que se organizou as interfaces que hoje encontramos nos computadores.
O hipertexto, cotidiano ou ampliado pela máquina, abre espaço para o cultivo de mais uma característica no ser humano , a auto-formação independente do campo e relativizando as inúmeras possibilidades e informações conseguidas 0o melhor dessa questão é a própria constituição, seja ela o conhecimento humano ou a interface utilizada já que um meio possui sempre um fim transitório.
Toda criação equivale a utilizar de maneira original elementos preexistentes. Todo uso criativo , ao descobrir novas possibilidades, atinge o plano de criação. Esta dupla face da operação técnica pode ser encontrada em todos os elos da cadeia informática , desde a construção de circuitos impressos até o manejo de um simples processador de textos. Criação e uso são na verdade dimensões complementares de uma mesma operação elementar de conexão, com seus efeitos de interpretação e construção de novos significados. Ao se prolongarem reciprocamente , criação e uso contribuem alternadamente para fazer ramificar o hipertexto sócio-técnico.(PL As tecnologias da inteligência)
A fala de Pierre Levi descreve o processo sobre a técnica enquanto hipertexto, bem como a relação professor/aluno, dentro de uma sala de aula quando o professor reaproveita as informações , interesses e necessidades de informação outras redes levando ordem ao caos e novamente a ordem percebendo a fluência e necessidade de ação reflexão ação. Esses processos de dimensões complementares traçam o caminho percorrido pelo aprendiz e pelos seus companheiros nessa aventura do conhecimento, a todos conexão a novas informações e segurança nas "velhas" para atingir o próximo passo dotado do mesmo intúito: A pesquisa, logo, a ousadia da busca.Silvio Gallo diria que tal procedimento equivale ao papel do filósofo na educação já que assim o fosse perderia a infinitude do caos no qual mergulha e que permite também a criatividade e a ela elaboração de novos conceitos e opiniões de outros, levando a formação de conceitos sob o conceito de "catalizador, que faz multiplicar e crescer as possibildades do pensamento.Quanto a criação e uso "dimensões complementares.
Deleuze e Guattarri o fariam afirmando que vivemos sob o império da opinião e os TI são nesse império a porta dessas opiniões já que abre oportunidades de ver, ler e ouvir outros pontos de vistas a partir da forma hipertexto. Pontos de vistas oriundos do mundo informacional, disponibilizado pela máquina,além dos contados cotidianos nos colocando numa "arena de opiniões"(Gallo) que deveriam invariavelmente nos levar a repensar nossas próprias opniões,sob e sobre essas opiniões devido a origem sócio Histórico dessa multiplicidade.
Disponibilizando-nos um acontecimento a cada desdobramento, opnião, criação, conceito, texto, contato, hipertexto, interface e literatura maior (Gallo). As relações travadas e possibilitadas por essa estruturas favorecem a ampliação da visão do topo – Cosmovisão – acionando a responsabilidade individual nas relações cotidianas com o social cosmopolita. "Eis porque a atividade técnica é política ou Cosmopolítica" ( Pierre Lévy) e a sala de aula não foge a essa estrutura já que o papel do professor dentro dessa nova proposta de sociedade incluída tem que ser mais que sempre um mediador capaz de promover um "currículo com competência para romper com a educação bancária, promovendo assim um diálogo que busque o pensar autêntico sobre uma realidade crítica capaz de anunciar o inédito viável como foi dito por Paulo Freire.
Groupware/ Grupos de trabalho - Inteligência Coletiva
Esse movimento Cosmoético favorece a Inteligência Coletiva (Pierre Lévy), e definido pelo mesmo como potência de auto-criação. Ou seja, embora sempre coletiva , pode emergir de processos de interação circular e de auto-produção próprios do coletivos humanos dependendo fundamentalmente da capacidade dos indivíduos e dos grupos humanos de porem em relação, suas capacidades de interação, e, desta forma, de intensificar a troca, a produção e a utilização de conhecimentos.
O mural que está sendo construído por esse grupo tem como características as mesmas encontradas no livro para o hipertexto:
auxílio a concepção;
auxílio a discussão coletiva;
localização dentro da estrutura lógica em discussão;
ligação ao contexto da discussão;
auxílio a inteligência cooperativa;
desdobramentos da rede de questões, posições e argumentos;
faz romper a estrutura "agonística" dos monólogos dos professores;
construção progressiva;
acessível;
escrita coletiva, dessincronizada, desdramatizada e expandida;
" Um iniciante em uma disciplina científica ou em uma esfera de conhecimento práticodeverá ser capaz de adiquirir um bom número de informações apenas através da manipulação dos ideogramas que representam os principais objetos de um determinado domínio, e através da observação de suas interações." ( P.L.)
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