sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

O que é Avaliação Dialógica?


Foto tirada durante passeio com os alunos pela orla de Niterói. Pescadores retirando a rede do barco. Movimento coletivo em prol de todos ou Colaboração!

O que é Avaliação Dialógica?

Comprei o Livro das Virtudes ontem antes do sarau e empolgada com a aquisição levei-o para a escola. Não podia deixar de ler um pouco durante a viagem do ônibus.
Ao chegar na sala fui atropelada por um excesso de informações. Filme de ontem, filme de hoje, comentário do filme, problemas da sala de aula, reclamação da mãe, o jogo, a inscrição, os relatórios ... que beleza!!!! Muito bom foi o pedido para passar toda a tarde de hoje vendo filme ou eu lendo histórias para eles. Como me convencer? Chantagem lógico. Carinhas, biquinhos e a fala:
- Ah! Dá uma chance pra gente hoje!!!
- Difícil resistir certo?
Num instante eu estava apresentando o meu livro para eles. Contando o que havia ali dentro e como eu estava ansiosa com tudo aquilo.
Diante dos últimos acontecimentos ocorridos coloquei no quadro a lista de títulos dos contos relativos ao tema: Responsabilidade. Naquele momento eles deveriam fazer a leitura dos mesmos, escolher o que mais interessasse e aguardar o momento de votar.
- Lembrando que a proposta de escolher por votação foi deles.
Iniciada a leitura foi encantador ver naqueles rostinhos a expectativa de cada lance do texto que a maioria escolheu. Mesmo tendo discutido afim de que mais dois textos fossem lidos ( no caso o segundo e o terceiro colocado). Continuaram a discutir mesmo depois de decidido que os mesmos seriam lidos nem que fosse em outra aula.
Parti para a leitura do texto munida de todo o tipo de competência interpretativa que eu tinha até aquele momento, digo até aquele momento porque com certeza mudei a partir daquele encontro. Olhares espichados e eu encantada com o que estava acontecendo. Professora espichada com o que estava acontecendo e eu boba com o interesse deles para o texto.

    - Essa é uma boa proposta de trabalho para o próximo ano!

Após a leitura continuei a fazer a organização das coisas que estavam em cima da mesa e ao terminar eles deveriam ir até a mesa com o desenho de uma das passagens da história para a leitura e reflexão em cima do mesmo além de lápis na mão. Mais rápido do que poderia imaginar O aluno “x” me apresentou o trabalho dele feito. Ou melhor, muito bem feito. Pela primeira vez não teve medo de arriscar-se e resolveu mostrar o que ele sabe em forma de texto. Da mesma forma como ele concebeu a aceitação da necessidade de exposição, concebeu também a possibilidade de ele acertar. Importante para acelerar o processo de intimidade com as palavras e com as outras pessoas aquele momento foi por nós dois comentado com uma aceitação e sinceridade impressionante!
O menino assustado resolveu por as manguinhas do lado de fora!!! Resolveu arriscar-se a escrever, “botar a cara” e responder. Ele estava naquela situação que observou durante todo o ano acontecendo com os seus colegas. O que esteve durante todo o ano inacessível agora estava se apresentando e mandando entrar. A oportunidade de ler e escrever.

- Precisava eu brigar com você daquele jeito para você perder o medo de escrever? Você não sabia que não escrevia porque tinha medo de errar?

O aceno com a cabeça acompanhado de um sorriso satisfeito me deixou muito feliz por tê-lo pressionado há 3 dias atrás. Estava claro que ele estava assumindo sua disponibilidade de tentar fazer. Agora não tem volta!! Conhecimento adquirido! A resposta positiva assumindo seu posicionamento me deu a certeza de ter agido corretamente. A pressão foi suportável.
Comemoramos aquele momento com um abraço forte e sorridente o vencedor voltou para a mesa pois hoje foi o primeiro dia que fez toda a atividade e teve o prazer de ser um dos primeiros a terminar.
E o processo avaliativo não terminava por aí. Ao final da aula duas mães me “rodiavam” para trocarmos fofocas e segredos sobre os meninos. A mãe “dela” queria ir embora mas ela não perdeu a chance de pedir:
- Posso levar o teu livro?
- Simone você fica inventando moda! Comentou a mãe.
- Pede para o pai ler para ela.
- Pode ter a certeza que se depender dele ele vai ler esse livro aqui todinho para ela!
- Que ótimo viu, você nem precisa se preocupar.
- Tenha cuidado com o livro viu menina! Comprei ontem e você vai ler ele antes de mim.
- Pode deixar tia!
E por falar nisso penso que a resposta para título é: AVALIAÇÃO DIALÓGICA! Esse momento de final de ano, mesmo quando não se tem que dar notas aos alunos pois na verdade o que conta é o relatório, a cabeça do professor se consome de análises e pensamentos. Momento de ebulição de conceitos muito profundos sobre a opinião que você tem do outro e de si mesmo. A responsabilidade de ser coerente e justo, de ter que saber de cada por menor de cada uma daquelas pessoas. De não perder o momento de mudança na Zona de Desenvolvimento Proximal Relacional de cada um daqueles cidadãos.
Como eu poderia saber, digo, Ter o registro do processo de escrita do meu aluno se eu não fizesse com que ele compreendesse o quanto nossos erros são presente? Se ele não tivesse passado o ano inteiro ouvindo eu dizer para os seus colegas que não tinha problema errar? Se eu não tivesse me sentido tão ofendida quando ele me disse que não fazia nunca o dever porque tinha medo de eu brigar se ele errasse e imediatamente eu parei a aula e perguntei para os alunos:
- Eu brigo quando alguém erra?
- Não!!!
- Quando eu brigo então?
- Quando não faz o dever!!! Respondeu a turma em alto e bom som.
E quando lhe fiz as mesmas perguntas que fiz para turma a resposta não foi diferente. Mesmo chorando foi preciso aceitar que não tinha como enganar. Já era hora de se preparar para ter outros medos e dividir novos conhecimentos.

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